O INSTITUTO PIETISTA DE CULTURA (IPC) é um Instituto Teológico mantido pela IBRM (Igreja Batista Renovada Moriá). A sua missão é promover o ensino do pensamento cristão dentro de uma perspectiva interdisciplinar, combinando o aspecto acadêmico da teologia com o aspecto devocional da fé.

O IPC se propõe a oferecer cursos livres de teologia em nível médio e superior. Além disso, pretende oferecer cursos de extensão em temas teológicos específicos de caráter apologético e transdisciplinar. Os referidos cursos de extensão proporcionarão suporte aos Seminários e Faculdades Teológicas existentes, oferecendo a oportunidade de complementação e especialização dos estudos.

O IPC também oferecerá Cursos de Pós-Graduação em convênio com Instituições de Ensino Superior já credenciadas pelo MEC.

O corpo docente do IPC é formado por professores graduados e pós-graduados (especialização, mestrado, doutorado) em Universidades credenciadas pelo MEC e pela CAPES. Alguns de nossos professores também são professores de Universidades Federais e Estaduais, tendo ampla experiência em cargos de coordenação, em composição de currículos universitários e em assessoria de autorização e reconhecimento de cursos de graduação junto ao MEC.

Os professores do IPC têm também ampla produção cultural através da publicação de livros e de artigos em revistas e jornais especializados. O Jornal TOCHA DA VERDADE é um periódico teológico vinculado ao IPC. As obras da Editora Moriá também dão especial atenção aos temas de aprofundamento do IPC.

POR QUE É PIETISTA?

No século XVII, após a morte de Martinho Lutero, as igrejas protestantes na Alemanha se entregaram a disputas teológicas, negligenciando o aspecto experimental e prático da fé. Nesse instante, Filipe Jacob Spener apareceu em cena através de seu livro “Desejos de Piedade” (1675). Ele protestava contra a crença popular de que a pessoa podia se considerar cristã pelo simples batismo infantil. Contra isso, ele interpunha a exigência do novo nascimento como uma experiência pessoal. Spener não se opôs a teologia, mas insistiu na importância dos estudos bíblicos acontecerem em um contexto de fervor espiritual. Ele enfatizou a fé viva contra a ortodoxia morta.

Spener introduziu um sistema de grupos de estudos bíblico nos lares e ressaltou o sacerdócio universal dos crentes. Os seus “colégios de piedade” inspiraram as “sociedades metodistas” na Inglaterra. O pietismo alemão correspondeu ao evangelicalismo anglo-saxão.

O convertido mais importante de Spener foi A. H. Francke (1663-1727), outro grande líder do movimento pietista antigo. Francke fundou uma nova universidade dentro da orientação pietista.

A influência do pietismo foi poderosa. O afilhado de Spener, Conde Zinzendorf, importante líder dos irmãos morávios, trouxe grande impulso ao movimento missionário evangélico. Através dos irmãos Morávios, John Wesley se converteu na Inglaterra, e, pelo seu ministério, a Inglaterra conheceu o maior avivamento espiritual de sua história.

O IPC é pietista porque ressalta uma fé viva, um cristianismo experimental, o fervor evangélico e missionário. Como M. Lloyd-Jones, compreendemos a pregação e o ensino como “razão eloqüente” e “lógica em chamas”!

POR QUE “DE CULTURA”?

Por que visa a uma formação interdisciplinar que capacite os alunos a argumentarem a favor da fé cristã em um ambiente acadêmico secular. A nossa preocupação é com o equilíbrio entre “identidade e relevância”. Pretendemos argumentar nos “jogos de linguagem” dos acadêmicos, mas sem fazer concessões no conteúdo bíblico de nossa fé.

Oferecemos formação teológica capaz de não ser abalada pelas modernas críticas do pensamento secularizado.


LANÇAMENTO: "Teologia e Imaginário" do pastor Glauco Barreira

No período primitivo e pós-apostólico da igreja cristã, muitos gigantes intelectuais se levantaram desde Paulo até Agostinho para evidenciar a superioridade do evangelho sobre a filosofia greco-romana. O fervor apologético produziu obras que até hoje arrebatam leitores piedosos. Na Idade Média, a teologia foi a rainha das ciências, o modelo para a compreensão do mundo. A Reforma, por sua vez, sendo um profundo movimento espiritual, não apenas colocou a Bíblia na mão do homem comum, mas também o inflamou com o zelo de estudá-la.
            Foi o liberalismo teológico do final do século XIX e início do século XX que tirou a vitalidade da teologia, procurando acomodá-la a uma mentalidade cientificista, que agora está sendo criticada pelos filósofos pós-modernos. O liberalismo encontrou oportunidade porque o fervor teológico já tinha sido apagado pela rotina e pelas incursões da política de Estado nas controvérsias religiosas.
            No século XX, Karl Barth e Francis Schaeffer foram pensadores cristãos que, apesar das discordâncias, ousaram falar sobre o mundo da perspectiva teológica em lugar de falarem da teologia sob a perspectiva mundana. Foi, porém, C. S. Lewis, um professor de literatura, que retomou o modo agostiniano e medieval de fazer teologia. A sua grande contribuição foi a redescoberta do papel do imaginário para o pensamento religioso. Isso significa que falamos do transcendente comparando com o que conhecemos no mundo sensível. A nossa linguagem religiosa tem um “déficit” em relação à realidade a que se refere. Essa lacuna é suprida por uma variedade de metáforas e analogias em relação de complementaridade. Essa é razão de Jesus ser tanto o “LEÃO” como o “CORDEIRO”.
A linguagem teológica está comprometida com a verdade (adequação do pensamento com a realidade), mas também com a normatividade (o imperativo que nasce do indicativo – ex.: “devemos ser santos porque somos santos”) e, acima de tudo, com a impressão poética arrebatadora. Jonathan Edwards dizia que a verdadeira religião consiste em santos afetos. Ele sustentava que uma pregação não deveria ser acompanhada com caneta e papel (como um estudo bíblico), pois o seu objetivo era deixar impressões mais do que sistematizações. O Dr. M. Lloyd-Jones disse que a pregação era “razão eloqüente” e “lógica em chamas”.
Há um “caminho mais excelente” no modo de fazer teologia. Identificar esse caminho é a proposta desse livro!


Glauco Barreira Magalhães Filho é Mestre em Direito Público (UFC), Doutor em Sociologia da Religião (UFC), Doutor em Teologia (FACULDADE ETNIA - Faculdades Integradas Interetnicas) e Livre Docente em Filosofia (UVA). É professor universitário (UFC/UNIFOR), Diretor do Instituto Pietista de Cultura (IPC) e pastor da Igreja Batista R. Moriá em Fortaleza-Ce. É autor de livros nas áreas de Direito, Filosofia e Sociologia. No campo teológico, além de diversos artigos, escreveu “O Imaginário em As Crônicas de Nárnia” (Mundo Cristão), “Lições das Crônicas de Nárnia” (Abba Press), “Teologia do Fogo” (Moriá Ed.) e “Manifesto contra o mundanismo” (Moriá Ed.)    

CURSO SOBRE APOLOGÉTICA CRISTÃ E SECULARIZAÇÃO

O curso acerca do tema “Apologética Cristã e Secularização”, que será promovido pelo Instituto Pietista de Cultura, é mais do que oportuno, tendo em vista o presente momento que a igreja vive no mundo.
            A secularização tem uma face positiva e uma face negativa. Na sua face negativa, ela reduz a religião a uma questão de preferência pessoal, algo que se limita à intimidade individual, um aspecto da vida privada. Desse modo, a fé fica desabilitada para falar na esfera pública. O discurso, cujo pano de fundo é teológico, não deve sequer entrar em pauta de discussão. Os temas que são objetos de legislação e as decisões políticas se subtraem a qualquer consideração teológica. Na vida acadêmica, o discurso da fé é herético.
            Quando o cristão se deixa levar por essa ideologia secular, ele começa a viver em dois mundos. Em um deles, ele é o crente sob a autoridade da Bíblia, mas, no outro, ele ignora os valores do evangelho. A hipocrisia intelectual se torna institucional.
            Em meio a esse ambiente hostil, como é possível uma apologética cristã? Como é possível defender a fé e os valores do Reino de Deus?
            A apologética cristã se insere em duas tradições: a pressuposicional e a evidencialista. Cremos que as duas não precisam se excluir. Toda forma de defender a fé é bem vinda se compatível com as Sagradas Escrituras. O desafio, porém, é a apologética da apologética. Como seremos ouvidos em uma sociedade secularizada? Essa será a grande temática do curso que o Instituto Pietista de Cultura realizará nos dias 20 e 21 de maio de 2011.
            As informações sobre o curso podem ser obtidas pelo e-mail: institutopietistadecultura@yahoo.com.br.  As inscrições já estão sendo feitas na Casa da Bíblia e Bíblia & Opções.

PREFÁCIO DO DR. GLAUCO BARREIRA MAGALHÃES FILHO (DIRETOR DO INSTITUTO PIETISTA DE CULTURA) AO LIVRO “ESTADO MODERNO: REFORMA PROTESTANTE E CONTRA-REFORMA” ORGANIZADO PELO FILÓSOFO E JURISTA OSCAR D’ALVA E SOUZA FILHO

Foi com imensa satisfação que recebi a incumbência de prefaciar a obra “ESTADO MODERNO: REFORMA PROTESTANTE E CONTRA-REFORMA”, trabalho feito com a participação de vários alunos da UNIFOR e organizado pelo professor Oscar d’ Alva e Souza Filho.
O professor Oscar d’ Alva já havia presenteado o mundo acadêmico com várias obras filosóficas e jurídicas, todas permeadas de embasada exposição histórica e sociológica. O seu profundo espírito de pesquisa, porém, vem sendo transmitido com entusiasmo aos seus alunos, revelando a verdadeira relação que deve existir entre o mestre e os seus discípulos. Trata-se daquela relação que destina os discípulos a se tornarem também mestres.
Inicialmente, o professor Oscar organizou obras com os seus alunos em cursos de pós-graduação, mas, agora, vem, sucessivamente, com igual sucesso, empreendendo a mesma iniciativa com os alunos da graduação. Desta vez, o trabalho perpassa temas religiosos, filosóficos, políticos e jurídicos.
A Europa do século XVI foi marcada por grandes agitações políticas e religiosas. Em meio a essas turbulências, surgiu um novo mapeamento religioso, apareceram novas alianças políticas e houve o delineamento do Estado Moderno. As grandes navegações e o descobrimento de novas terras, por outro lado, deu a todos esses eventos uma maior extensão.
Martinho Lutero foi um monge do século XVI a procura da paz espiritual. A experiência, porém, que finalmente lhe trouxe resposta aos anseios religiosos, contrapunha-se totalmente a dogmática e a política eclesiástica católica. Enquanto Lutero enfatizava a graça divina, o catolicismo enfatizava o mérito. A mensagem do Reformador alemão era a de que o homem é justificado diante de Deus pela fé somente. As verdadeiras boas obras seriam conseqüência e não causa da salvação.
No início, Lutero queria apenas compartilhar com as pessoas a experiência que tivera, mas quando a sua mensagem parecia contestada pela venda de indulgências, o seu protesto ganhou maior intensidade.
A imprensa, recém inventada, permitiu uma ampla difusão para os pronunciamentos de Lutero. Ele alcançou a adesão de outros religiosos e o apoio de príncipes insatisfeitos com Roma. Ao mesmo tempo, na Suíça, Ulrich Zwingli, sem nenhuma dependência intelectual de Lutero, chegava a conclusões semelhantes às do Reformador Alemão. Em momento posterior, João Calvino, que pretendia dedicar-se apenas ao trabalho intelectual, terminou por ser o grande líder da Reforma na Suíça após a morte de Zwingli.
A reação católica à Reforma logo se fez sentir. Inicialmente, houve uma forte política de repressão, o que implicou a reativação dos dias cruéis da Inquisição. Depois do surgimento da “Companhia de Jesus” e do Concílio de Trento, porém, houve uma reação intelectual mais sistemática.
Entre a Reforma e o catolicismo, encontramos a controvertida figura de Erasmo. Em um primeiro momento, ele criticou a igreja por sua decadência moral e elogiou Lutero. Posteriormente, diante da repressão católica e das posições mais ousadas de Lutero, ele recuou[1]. A Contra-Reforma condenou muitas opiniões de Erasmo, levando muitos humanistas a adotarem a fé calvinista[2].
Thomas More, apesar de ser um humanista e imaginar um mundo regido pela solidariedade humana, não se limitou à polêmica com William Tyndale na sua reação ao protestantismo, mas também favoreceu a repressão e a tortura de protestantes nos tempos católicos de Henrique VIII[3].
A Companhia de Jesus promoveu a educação religiosa católica e catequese dos pagãos como forma de “imunização” contra o protestantismo. Muitas técnicas pedagógicas foram desenvolvidas nesse período e a arte barroca alcançou o auge de seu desenvolvimento.
Os protestantes, mais interessados nos temas bíblicos, liberaram a natureza da tutela religiosa, possibilitando maior liberdade para a pesquisa científica. Após um certo tempo, isso gerou uma crescente secularização, cujo aspecto ideológico não foi favorável ao próprio protestantismo.
Os católicos, por sua vez, mantiveram a perspectiva cosmológica, o que os levou a um maior aprofundamento de temas como o do Direito Natural. É verdade que havia um Direito Natural dos protestantes (Grócio, Locke, Althusius), mas era um Direito Natural de fundamentação humanista. O Direito Natural de inspiração católica tinha fundamentos cosmológicos.
A obra ESTADO MODERNO: REFORMA E CONTRA-REFORMA explora esses vários aspectos do pensamento protestante e católico. Embora não concorde com algumas interpretações pontuais, reconheço a legitimidade das fontes e endosso a grande parte das observações.
No início da obra, o professor Oscar D’ Alva nos ambienta com o clima filosófico medieval, identificando a mudança paradigmática do pensamento religioso através da idéia marxiana de conversão da “quantidade em qualidade”.
Mariana Luz Zonari nos aproxima de Lutero e de sua doutrina da justificação pela fé, mas não sem mencionar o impacto político e social de seus ensinos.
Roberto Josino Medeiros d’ Alva familiariza o leitor com o Renascentismo e o humanismo. Explica as contribuições de João Calvino e comenta a tese weberiana sobre as afinidades eletivas entre o calvinismo e o capitalismo.
Nadson Rocha Aguiar Júnior trata da obra de Ulrich Zwingli, destacando a sua importância no contexto suíço. Na oportunidade, comenta as relações entre Lei Moral e Civil no pensamento do Reformador de Zurique.
No cenário da Contra-Reforma, Daniel Fontenele de Oliveira trata da visão ética de Luís de Molina. Entre outras coisas, ele tece comentários sobre a tentativa do religioso espanhol de conciliar o conceito de livre-arbítrio com a idéia de onipotência divina.
Aglais Cristina Gondim Tabosa Freire discorre sobre a utopia de Thomas Moore, destacando a presença do humanismo e do catolicismo no intelectual inglês.
Mariana Gomes da Fonseca trata de Erasmo de Rotterdam e Bartolomeu de Las Casas, sendo o primeiro um humanista e o segundo, um humanitário.
Kássio Chaves Vasconcelos expõe o pensamento de Francisco Suárez, cuja versão do jusnaturalismo foi precursora daquela defendida por Rudolf Stammler em momento posterior. Na oportunidade, ele explica, no contexto histórico e teológico, o pensamento jurídico de Suárez, bem como destaca prenúncios do Direito Internacional em suas obras.
Por tudo que foi dito, percebe-se a riqueza do livro que o autor tem em mãos. Os temas não são costumeiramente visitados no meio acadêmico brasileiro, o que só nos põe em desvantagem em relação às universidades européias. O professor Oscar conduziu os seus alunos as raízes do pensamento ocidental. Agora, com eles, procura quebrar o encanto do esnobismo cronológico, que, nos prendendo em nossa própria época, impede-nos de olhar o sol pelo qual vemos as outras coisas e o berço do rio em cujas águas o nosso barco navega.


Glauco Barreira Magalhães Filho
Mestre em Direito (UFC), Doutor em Sociologia (UFC), Doutor em Teologia (Ethnic Christian Open University), Livre-Docente em Filosofia do Direito (UVA), Professor da UFC/UNIFOR


[1] SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Trad. Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 286
[2] TREVOR-ROPER, Hugh. A Crise do Século XVII. Trad. Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Toopbooks, 2007, p. 285-291
[3] LANE, Tony. Pensamento Cristão (Vol. 2): Da Reforma à Modernidade. 2a ed. Trad. Eliseu Pereira. São Paulo: Abba Press, 2000, p.16

Prefácio do Prof.Dr.Glauco Barreira Magalhães Filho à edição em português do livro NAS CHAMAS POR CRISTO (On Fire for Christ-Herald Press)

Foram apedrejados; foram tentados; foram serrados pelo meio; foram mortos ao fio da espada. Andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra. (Hebreus 11: 37 e 38)


            O livro que o leitor tem em mãos intitula-se “Nas chamas por Cristo” e refere-se a testemunhos de mártires anabatistas. É um livro de sangue, como a Bíblia também o é. Enquanto a Sagrada Escritura aponta para o sangue  expiatório de Jesus Cristo, pelo qual somos redimidos, a presente obra faz-nos conhecer o sangue daqueles que, em gratidão por sua salvação, selaram sua fé em meio a perseguições, com a sua própria vida, suportando  a pena capital por amor ao Senhor que os alcançou .
            Os anabatistas destacaram-se pela coragem com que enfrentavam as chamas inquisitoriais, o que dava a impressão de serem obstinados, ou ainda, pela firme convicção com que falavam da Sã Doutrina, fazendo parecer aos seus inimigos que eram presunçosos e arrogantes.
            Na verdade, os anabatistas eram homens simples, conhecidos pela mansidão e paciência decorrentes de seu ensino da não-resistência. Não tinham orgulho ou arrogância, pois não aceitavam nem mesmo títulos de nobreza ou posição política, como também a proteção dos poderosos. Esses santos homens viviam uma rigorosa disciplina devocional, ganhavam o pão com o suor do rosto e suas palavras valiam mais do que documentos.
            Os anabatistas não usavam a expressão Reforma, mas sim, Restauração, pois não queriam meros ajustes. Queriam a plena manifestação do cristianismo primitivo, por isso eram chamados de Radicais, ou seja, aqueles que desejavam ver a igreja  renovada desde a raiz.
            Conforme a opinião dos mais renomados historiadores , os anabatistas não eram oriundos da Reforma do século XVI, embora seja verdade que muitos grupos procedentes da Reforma chegaram a conclusões que conferiam com o ensino anabatista e tenham, em seguida, se ajuntado a eles.
            Os anabatistas foram, no século XVI, os continuadores da obra dos valdenses medievais, que por sua vez procederam dos paulicianos, os quais remontam aos montanistas e novacianos dos séculos III e II, sendo que estes últimos representavam a melhor tradição apostólica em sua épocas. Enfim, o anabatismo é o cristianismo, a igreja anabatista é a igreja verdadeira.
            Como pastor de uma igreja anabatista, sinto a necessidade urgente de o nosso povo conhecer a sua história, bem como todo o sofrimento experimentado por nossos antepassados para que a tocha da verdade fosse passada para nós. Isso nos animará à defesa intransigente da verdade em meio a uma cristandade decadente que gosta da comodidade e despreza a cruz.
            Permita Deus que muitos sejam despertados por este livro, passando a amar mais a Cristo e a se comprometer integralmente com a verdade.

                        “E quem não toma a sua cruz, e não vem após mim, não é digno de mim”(Mateus 10:38)


Publicado por MORIÁ EDITORA

PREFÁCIO do Dr. Russell P. Shedd ao livro Lições das Crônicas de Nárnia de autoria do Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho (Diretor do IPC)


Desde os anos 50, tenho tido grande prazer em ler os livros de C.S. Lewis.  Trouxe para a língua portuguesa, por intermédio da Edições Vida Nova, os livros populares:  The Screwtape Letters ( “Cartas do Inferno”), Mere Christianity (“Razão do Cristianismo”)  e (Transposition and Other Essays, “O Peso da Glória”).  Lewis me fascina por duas razões:  Sua habilidade de raciocinar persuasivamente, e mais ainda, sua capacidade de usar palavras para estimular a imaginação.  Agora, por meio deste livro escrito pelo pastor e professor Glauco, o leitor terá acesso a outras qualidades extraordinárias deste professor cristão de literatura da Cambridge University na Inglaterra, sendo  principal entre elas o seu profundo domínio da filosofia e teologia, mesmo sendo leigo.   Considero um privilégio penetrar o pensamento de Lewis, conduzido  por um guia que comprova uma compreensão profunda e esclarecedora das conhecidas Crônicas de Nárnia.
Não esperava ler um livro que viesse iluminar tão nitidamente as fascinantes verdades teológicas escondidas nas páginas das Crônicas de Nárnia. Entre elas, a observação de que o Deus infinito não pode ser fruto da imaginação, pois, não corresponde a nada percebido pelos nossos sentidos. Temos aqui também uma explicação porque existe a pressão para divinizar Maria na Igreja Católica.
            O Prof. Glauco percebe o conceito do mal como o não ser, de modo que  na mitologia da feiticeira branca, ela pode tirar a vida ou transformar um ser vivo numa estátua.  Aslam, que representa Deus, por outro lado exerce poder criativo.  Os personagens que tem  contato amoroso com Ele são gradativamente transformados em seres melhores, mais bondosos.  Esta visão da realidade apresentada por Lewis, uma vez desvendada pelo autor nesta obra, é muito sugestiva.
As lições que o Prof. Glauco extrai das Crônicas e de O Senhor dos Anéis de Tolkien, que era um amigo chegado de Lewis, são extremamente valiosas.  Além de explicar o simbolismo por trás  da ficção, há penetrantes discussões acerca do mal, de Satanás, da consciência humana, e da igualdade dos dois sexos, sem serem criados para exercer as mesmas funções.
Acredito que em cada página o leitor encontrará vislumbres de realidades espirituais e morais.  É uma obra altamente recomendável que não deixará  de fazer bem para todos que puderem ver as verdades aqui escondidas.
A Deus toda a glória!

Russell P. Shedd

Livro Lições das Crônicas de Nárnia
Para adquirí-lo, entre em contato conosco.
Preço: R$ 28,00 - Publicado pela Abba Press


CAMBRIDGE E OS PURITANOS

             Em 1603, Jaime VI da Escócia tornou-se o rei Jaime I da Inglaterra, dando início à dinastia dos Stuarts. Os problemas anteriores do rei com o sistema presbiteriano na Escócia o levou a reforçar o episcopado na Inglaterra. Ele firmou o modelo litúrgico de inspiração católica e a disciplina estatal na igreja.O seu filho, Carlos I (1625-1649), casou-se com uma católica, aumentando a aproximação do anglicanismo com o papismo.
            Muitos pastores anglicanos dessa época foram oportunistas e ambiciosos. O seu despreparo para pregar e suas dívidas os levaram a “vender” o uso dos púlpitos para pregadores provenientes da Universidade de Cambridge. Muitos desses pregadores eram puritanos, pois o puritanismo era bastante influente na Universidade de Cambridge.
            Os puritanos tentaram reformar a igreja anglicana a partir de dentro, mas quando os tribunais episcopais começaram persegui-los, eles se tornaram separatistas, dando origem ao congregacionalismo não-conformista.
            Nessa história toda, algumas coisas devem ser destacadas. Em primeiro lugar, lembramos que os puritanos começaram pagando para pregar, o que revela que eram homens convictos e não mercenários (como muitos neo-pentecostais de nossos dias). Em segundo lugar, as universidades daquele tempo eram bem diferentes das de hoje, pois foram o solo de onde brotaram muitos pregadores piedosos. Em terceiro lugar, é de se lamentar como universidades como a de Cambridge se afastaram de Deus.
            Nós estamos precisando de instituições educacionais de qualidade que preparem homens intrépidos e versados nas Escrituras. Esses serão os que poderão influenciar culturalmente a sociedade através do cristianismo.
            Necessitamos de homens que cultivem o intelecto a serviço do evangelho, homens que “paguem” para pregar a verdade.
            Os puritanos não se tornaram “liberais” por sua formação universitária. Antes, eles se tornaram lendários pelo rigorismo moral. Eram contra o luxo, danças, jogos, etc.
            Os puritanos eram intelectuais, mas não eram arrogantes. Eles criam que tudo de bom que possuíam provinha da graça divina. A glória só a Deus era devida. Eles não ocupavam os seus cargos por ambição terrena, mas porque criam que haviam sido chamados por Deus para uma santa vocação. Entendiam as oportunidades que tinham como manifestação da providência de Deus.
            Precisamos em nossos dias de um seminário que não apenas promova o conhecimento, mas também a disciplina e a piedade. Precisamos aprender atitudes e não apenas doutrinas. As principais atitudes a serem aprendidas referem-se à abertura para graça, o desejo de glorificar a Deus, o senso de dever na vocação e a fé na previdência.

                        Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
                        (Diretor do IPC)

INSTITUTO PIETISTA DE CULTURA: UM SEMINÁRIO EM CHAMAS!


  "A meu ver, nossos institutos bíblicos precisam passar por uma considerável revolução de seus currículos e estratégias didáticas na preparação dos ministros da Palavra” (Leonard Ravenhill).

            Leonard Ravenhill foi um inflamado evangelista metodista que faleceu em 2001. As suas reuniões evangelísticas na Inglaterra durante a guerra provocavam um grande engarrafamento no trânsito. Ele estudou no Cliff College sob a direção do piedoso Samuel Chadwick.
            Os escritos de Ravenhill e Chadwick sobre oração e avivamento são uma prova viva de que o conhecimento teológico não precisa estar separado da vida devocional intensa. Para esses homens, os seminários deveriam ser o berço do avivamento, como tantas vezes aconteceu.
            Ravenhill e Chadwick, conhecedores do modelo universitário pietista, ficaram chocados quando perceberam que o academicismo estéril dominara os seminários e institutos bíblicos. Esse academicismo tem tomado conta dos seminários e faculdades teológicas do Brasil, principalmente pelo desejo de projeção cultural dos teólogos de baixa estima.
            E. M. Bounds (1835-1913) disse:

            “Uma escola que ensinasse os pregadores a orar, da maneira que Deus leva a oração em consideração, traria mais benefícios para a santidade verdadeira, para a adoração verdadeira e para a pregação verdadeira que todos os seminários teológicos [...] Ficamos reclusos para estudar, tornamo-nos estudantes, devoradores de livros e da Bíblia, preparadores de sermão, conhecidos pela literatura, pela reflexão e pelos sermões; mas, quanto ao povo e a Deus, onde estão? Fora do coração, fora da mente. Os pregadores que são grandes pensadores e grandes estudiosos precisam ser grandes na oração. Caso contrário, serão os maiores dos apóstatas, profissionais desalmados, racionalistas, menores que o menor dos pregadores aos olhos de Deus [...] Uma escola teológica que alargue e cultive o coração é o desiderato de ouro do evangelho”.

            Precisamos entender que o evangelho fala não só a mente, mas ao coração. A mente é lugar de passagem, mas o coração é o lugar de instalação. Um cristianismo sem sentimentos é falso. Jonathan Edwards explicou-nos que a verdadeira religião se revela em santos afetos, em fogo espiritual.
            Alexandre Knox, um filósofo cristão do século XVIII e amigo pessoal de John Wesley, disse:

            “Existe, na minha concepção, nas leis grandiosas do mundo moral, um tipo de compreensão secreta, semelhante às afinidades na química, entre a verdade religiosa corretamente promulgada e os sentimentos mais profundos da mente humana. Onde uma delas for devidamente exposta, a outra surgirá. Não nos ardia o coração? – mas para isso acontecer é indispensável que existam sentimentos de devoção naquele que fala.”

            Precisamos juntar o que houve de melhor nos puritanos com o que houve de melhor nos metodistas primitivos. Os puritanos souberam reconhecer a profunda miséria da condição adâmica do homem, mas a eles faltou aquela profunda consciência do lado vitorioso da redenção que inflamou os metodistas.
            O INSTITUTO PIETISTA DE CULTURA procura juntar cultura teológica com piedade devocional, estudo reflexivo com oração fervorosa e apologética com avivamento. Vamos orar pelo IPC e vamos crer que ele vai ser o solo fértil de onde brotarão pregadores ungidos que serão usados por Deus para trazer um grande avivamento espiritual!!

            Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho

A NECESSIDADE DE UM SEMINÁRIO GENUINAMENTE BÍBLICO (PARTE V)

“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.” (I Cor. 3: 16-17).

            Há séculos que, a partir do texto acima, os cristãos entendem ser impróprio a um ser humano causar laceração voluntária em seu próprio corpo ou entregar-se a vícios que destroem o corpo (como o fumo, a droga, etc). Se o corpo é santuário do Espírito, então, destruí-lo é um sacrilégio.
Gordon D. Fee & Douglas Stuart, em seu livro ENTENDES O QUE LÊS (Editora Vida Nova), porém, afirmam que o texto acima não se refere ao abuso do corpo, sendo uma traição exegética a interpretação tradicional que assim o afirma.

“Afinal de contas, aplicar I Coríntios 3: 16-17 ao crente individual é exatamente aquilo que muitas pessoas na igreja têm feito erroneamente durante séculos.” (p.50)

Para esses Fee e Stuart, o texto de I Cor. 3: 16-17 se refere a destruição da igreja e não do corpo do cristão:

“Pelas suas divisões, no entanto, estavam destruindo o templo de Deus. Aqueles que são culpados pela destruição deste templo, diz Paulo, serão eles mesmos destruídos, porque a igreja de Corinto era sagrada para Ele.”

Ora, nós não questionamos que o objetivo direto de Paulo era condenar os que destruíam a igreja através de divisões. No entanto, nós não podemos separar a igreja (corpo místico de Cristo) de seus membros individuais. O que vale para o corpo vale para cada membro. Destruir um crente é também destruir a igreja:

“Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também... De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo e seus membros em particular.” (I Cor.12: 12, 26-27).

Observe que o texto bíblico citado acima também está na carta de Paulo aos coríntios. A “exegese” de Gordon D. Fee & Douglas Stuart, na procura da intenção imediata das palavras de Paulo em I Cor. 3, termina esquecendo o sentido sistemático da Bíblia.
Quando Paulo diz que Deus destruirá quem destruir seu templo, ele quer estabelecer um princípio geral. O fato de ele aplicar esse princípio às divisões da igreja não significa que essa seja sua única aplicação. Percebe-se a possibilidade de se aplicar tal princípio àquele que destrói o seu corpo a partir do próprio contexto da epístola de Paulo aos coríntios:

“Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Cor. 6: 19).

Observe que Paulo inicia o versículo com as seguintes palavras: “Ou não sabeis...”. Ele presume que os coríntios desde o início de sua carta já deveriam saber que o nosso corpo era santuário do Espírito. Em outras palavras, eles já deveriam ter isso em mente quando ele disse no capítulo 3 que quem destruísse o templo de Deus seria por Ele destruído.
A Palavra de Deus, segundo a boa hermenêutica, é tanto aquilo que está dito categoricamente na Bíblia como aquilo que se pode deduzir do que está dito. A Confissão de Fé de Westminster diz:

“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou É EXPRESSAMENTE DECLARADO NA ESCRITURA OU PODE SER LÓGICA E CLARAMENTE DEDUZIDO DELA.” (CAP. I, VI).
Nesses dias em que os arrogantes querem “descobrir” o que ninguém mais descobriu na Bíblia, nós precisamos de um seminário que resgate a verdadeira hermenêutica bíblica!

A NECESSIDADE DE UM SEMINÁRIO GENUINAMENTE BÍBLICO (PARTE IV)

A RELAÇÃO ENTRE OS TESTAMENTOS

            Há uma concepção acerca da relação entre o Antigo e o Novo Testamento segundo a qual tudo aquilo que é do Velho Testamento só valerá no Novo se for reafirmado. No livro ENTENDES O QUE LÊS (Edições Vida Nova), Gordon D. Fee e Douglas Stuart defendem essa posição:

“... Ou seja: a não ser que uma lei do Antigo Testamento seja de alguma forma reformulada ou reforçada no Novo Testamento, já não é diretamente obrigatória para o povo de Deus” (p. 139).

            Nós poderíamos “salvar” essa hermenêutica de desastres por meio de um complemento, ou seja, dizendo que o Novo Testamento pode reafirmar coisas do Velho Pacto não apenas de maneira explícita, mas também de maneira implícita. Assim, se poderia condenar o bestialismo (sexo com animais) debaixo do Novo Pacto, embora somente no Antigo Testamento tal prática seja reprovada diretamente. Se o Novo Testamento condena o homossexualismo como não natural (Romanos 1), não faria sentido aprovar o bestialismo. As relações incestuosas proibidas no Velho Testamento ainda o são no Novo Testamento, pois Paulo condenou uma delas na igreja de Corinto (I Cor. 5: 1). A distinção de vestes entre homem e mulher exigida em Deuteronômio 22: 5 continua válida, pois Paulo exige distinção de aparência entre homem e mulher na igreja de Corinto (I Cor. 11: 2-16).
            Gordon D. Fee e Douglas Stuart, porém, não aceitam a nossa tentativa de “salvar” a sua imprecisa hermenêutica:

“Somente aquilo que é explicitamente renovado da lei do Antigo Testamento pode ser considerado parte da ‘lei de Cristo’ no Novo Testamento. Incluídos em tal categoria estariam os Dez Mandamentos... bem como os dois grandes mandamentos em Deuteronômio 6: 5 e Levítico 19: 18. Não se pode comprovar QUE QUALQUER OUTRA LEI DO ANTIGO TESTAMENTO É RIGOROSAMENTE OBRIGATÓRIA PARA OS CRISTÃOS, POR MAIS VALIOSO QUE SEJA PARA OS CRISTÃOS CONHECEREM TODAS AS LEIS.”(p. 141).

            Ora, se, no Novo Testamento, só valem os dez mandamentos e o mandamento do amor, então não há como condenar as práticas do homossexualismo ou do bestialismo, pois elas não estão explicitamente reprovadas nos dez mandamentos e no mandamento do amor. Além disso, na dispensação da graça, ninguém guarda o sábado nos termos do decálogo, ou seja, ninguém impede os animais e os estrangeiros de fazerem obra servil (Êxodo 20: 10).
            A visão de Gordon D. Fee e Douglas Stuart da palavra de Deus é fraca, pois presume que Deus tenha que repetir algo para continuar valendo. Eles fazem de Deus um pai sem autoridade que repete várias vezes as mesmas ordens até ser levado a sério.
            A hermenêutica bíblica da Reforma diz exatamente o contrário de Gordon D. Fee e Douglas Stuart, pois afirma que toda palavra de Deus no Antigo Testamento continua válida a não ser que haja alguma razão explícita ou implícita no Novo Testamento para não continuar valendo. Kenneth L. Gentry, Jr., observa com acerto:

“... Se o Novo Testamento rejeita ou anula uma lei particular da Lei de Deus, quer por preceito ou exemplo, então essa lei não é mais obrigatória neste era. MAS MANTEMOS QUE É SOMENTE DEUS FALANDO NA ESCRITURA QUE TEM AUTORIDADE PARA FAZER ISSO.” (God’s Law in the Modern World: The Continuing Relevance of Old Testament Law).

            É necessário que levantemos urgentemente um seminário genuinamente bíblico para ensinar a correta forma de interpretar a Bíblia!

A NECESSIDADE DE UM SEMINÁRIO GENUINAMENTE BÍBLICO (PARTE III)

 A QUESTÃO DO DIVÓRCIO

            O casamento é uma instituição divina em torno da qual deve haver a mais profunda reverência (Hebreus 13: 4), pois Deus abençoou o primeiro casal (Gênesis 1: 28). Jesus operou o seu primeiro milagre numa festa de casamento e Paulo assemelhou o relacionamento do casal ao relacionamento que há entre Cristo e a igreja.
            Jesus não admitiu o divórcio senão em uma única exceção. Essa exceção ocorrerá quando um dos cônjuges romper deliberadamente o voto conjugal de fidelidade sexual, não manifestando arrependimento e perseverando no erro. Nesse caso, o cônjuge inocente tem o direito (não o dever) de se divorciar. Esse divórcio só aproveita ao inocente, ou seja, ele não oportuniza a chance de novo casamento para o culpado. Isso também não significa que se recomenda ao inocente que se apresse para novo casamento.
            Jesus disse:

“Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas (a tradução para o plural objetiva assinalar prática deliberada), e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério” (Mateus 19:9).

            Jesus, ao contrastar suas palavras com as de Moisés, estabelecia o padrão perfeito, pois Moisés fora condescendente com a fraqueza humana, tolerando o pecado (embora não o tenha legitimado) – Mateus 19: 8. 
            No livro ENTENDES O QUE LÊS (Edições Vida Nova) de Gordon D. Fee e Douglas Stuart, entretanto, o divórcio é justificado para mostrar condescendência com a sociedade profana:

“O divórcio dificilmente seria uma opção válida para casais quando os dois querem ser seguidores de Jesus – consideração esta que é repetida por Paulo em I Coríntios 7: 10-11. Numa cultura tal como os Estados Unidos, porém, em que um de dois adultos convertidos terá sido divorciado, a questão de um novo casamento provavelmente não deve ser decidida sem consideração e sem solicitude redentora para com os novos convertidos. Nossas primeiras suposições acerca do significado das palavras de Jesus faladas num contexto cultural inteiramente diferente devem ser cuidadosamente examinadas.” (p. 115)

            O que os autores desse livro de hermenêutica bíblica (adotado como livro básico em muitos seminários) estão dizendo é que o padrão de Jesus não se aplica aos incrédulos da cultura ocidental. Se alguém adulterou e se divorciou da mulher antes de se converter, depois de se converter poderá se casar de novo pela “solicitude redentora” (?). Assim, o incrédulo tem mais direitos que o crente, pois ele pode se casar mais de uma vez, mas o crente não. O incrédulo tem “solicitude redentora”, mas ele a perde depois que, já sendo crente, casa. Que loucura!
            Na visão dos autores desse livro confuso, as palavras de Jesus devem ser relativizadas pelo contexto cultural, apesar de Jesus ter apelado para o padrão da criação, de ter oposto sua palavra à de Moisés e de ter usado sua autoridade pessoal e divina (“Eu, porém, vos digo”).
            Eu fico pensando como esse pensamento se aplicaria a quem acredita na perda da salvação. O cidadão casa na igreja e, depois, se desvia, “perdendo a sua salvação” e “voltando” a ser incrédulo. Agora, ele pode se divorciar, pois, se ele se reconciliar, a “solicitude redentora” lhe permitirá um novo casamento.
            Eu conheço um homem que era de uma certa igreja, mas deixou a mulher para casar com outra. A sua justificativa foi a de que, quando ele era casado com a primeira, não era de fato convertido. Agora, porém, ele era “convertido” e seu novo casamento vale pela “solicitude redentora”!?
            Do ponto de vista teológico, eu tenho uma pergunta: Como o pecado deixa de ser pecado? Afinal de contas, se o pecado é contra Deus e sua lei, ele só pode não ser mais pecado se a lei de Deus e o próprio Deus mudarem!
            Jesus disse que quem deixa a mulher e casa com outra comete adultério. O seu novo relacionamento é adúltero. Obviamente, a pessoa pode se converter, deixando o adultério, mas, se ela permanecer no ato, ele pode deixar de ser um adultério abominável aos olhos de Deus para se transformar no santíssimo matrimônio?
            Os autores do referido livro querem ser divorcistas para mostrarem condescendência com a imoralidade da sociedade americana, a qual teve formação protestante. Será que a corrupção da fé merece condescendência?
            O que Jesus disse vale para os incrédulos. A proibição de Jesus ao divórcio veio em resposta a uma pergunta feita pelos FARISEUS (Mateus 19: 3). Os discípulos acharam a palavra de Jesus dura para um CONTEXTO CULTURAL QUE JÁ TOLERAVA O DIVÓRCIO, mas Jesus não cedeu:

“Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher; não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra,mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos Céus.Quem pode receber isso, que o receba.” (Mateus 19:12).

            Se alguém, antes de ser crente, deixou a mulher para viver em adultério, e, agora, ela não mais o quer de volta, então o tal se faça eunuco para entrar no céu!
            O mundo pode não querer aceitar os padrões de Cristo, mas a igreja tem que aceitar.
            Deus nos livre da hermenêutica que favorece ao pecado e domina a maioria dos seminários e igrejas!