Ao
analisarmos a História da Igreja Cristã nos deparamos com um grande número de
pequenos movimentos, chamados marginais, cuja maior característica era o
retorno ao primitivismo cristão. Os Valdenses, habitantes dos vales piemonteses
e de outros vales circunvizinhos na Itália, do século XII, foram um desses
grupos.
Existem
pelo menos três teorias que tentam explicar as origens dos Valdenses. A
primeira informa que os valdenses são provenientes da Lombarbia cuja Igreja
tinha uma forte influência de Agostinho, de Ambrósio, de Vigilantius e de
Cláudio, bispo de Turim, no século X. Na segunda, Pedro Valdo é citado como o
fundador deste movimento no século XII. E a terceira aponta sua origem para um
remanescente de Albingenses da França em fuga devido às perseguições nesse país
no século XIV. De uma forma ou de outra foram severamente perseguidos por causa
de suas convicções, ganhando renome histórico.
Numa
tentativa de aproximar o adventismo desse movimento tão nobre, Ellen G. White,
considerada profetiza, proferiu que os Valdenses foram a igreja verdadeira de
Deus para depois associá-los aos seus seguidores sabatistas. Desta feita,
ensinou sua profecia como sendo a verdade de Deus revelada. Ellen White teria
recebido informações diretas de Deus sobre os perseguidos valdenses, não
necessitando fazer nenhum apurado histórico para confirmá-las. Segundo ela, a
história do povo de Deus durante os séculos de trevas que se seguiram à
supremacia de Roma, está escrita no Céu, mas pouco espaço ocupa nos registros
humanos. Veja o texto onde ela compara e declara os Valdenses como a
verdadeira igreja de Cristo com pretensões adventistas:
A fé que durante muitos
séculos fora mantida e ensinada pelos cristãos valdenses, estava em assinalado
contraste com as falsas doutrinas que Roma apresentava. Sua crença religiosa
baseava-se na Palavra escrita de Deus – o verdadeiro documento religioso do cristianismo.
Mas aqueles humildes camponeses, em seu obscuro retiro, excluídos do mundo e
presos à labuta diária entre seus rebanhos e vinhedos, não haviam por si sós
chegado à verdade em oposição aos dogmas e heresias da igreja apóstata. A fé
que professavam não era nova. Sua crença religiosa era a herança de seus pais.
Lutavam pela fé da igreja apostólica - a "fé que uma vez foi dada aos
santos". Judas 3. "A igreja no deserto" e não a orgulhosa
hierarquia entronizada na grande capital do mundo era a verdadeira
igreja de Cristo, a depositária dos tesouros da verdade que
Deus confiara a Seu povo para ser dada ao mundo.
Após
apresentar o movimento de forma elogiosa, ainda no capítulo 4 do livo “O Grande
Conflito”, talvez o mais conhecimento escrito da Sra. White, ela declara que os
valdenses eram guardiões do sábado: Entre as principais causas que levaram
a igreja verdadeira a separar-se da de Roma, estava o ódio desta ao sábado
bíblico… rejeitavam o culto às imagens como idolatria e guardavam
o verdadeiro sábado.
A tentativa de unir uma Igreja
histórica, marcada pelo zelo e pelo sofrimento, ao adventismo se mostra mais explícito
neste momento. No entanto, a grande questão é saber mesmo se os valdenses
guardavam o sábado. No Nobla Leycon, um poema, mas na realidade, uma confissão de
fé ou um estudo memorável do sistema da cristandade em contraste com os erros
de Roma, escrito de grande reputação dos valdenses, abaixo apenas da Bíblia
Sagrada, não há nenhuma referência ao sábado. Este credo apresentava a necessidade de praticar as virtudes
cristãs apesar do fim iminente. A conduta consciente e convicta levou sua
irrepreensibilidade se tornar um provérbio, de modo que se alguém que
normalmente fosse isento de vícios era suspeito de ser um Vaudes(valdense). O Nobla Leycon
tem a seguinte passagem: - "Se há um homem honesto, que deseja amar a Deus
e reverenciar Jesus Cristo, que não faça calúnia, nem jure, nem minta, nem
cometa adultério, nem mate, nem roube, nem se vingue de seus inimigos,
eles num instante dizem que ele é um Vaudes(valdense)
e digno de morte".
Para
não ficarmos apenas com os textos valdenses, encontramos uma correspondência
entre um pesquisador húngaro e um pastor valdense da Itália discutindo sobre o
tema “a guarda do sábado pelos valdenses”. Vejamos e concluamos:
O seguinte texto foi
publicado por Andras Szalai e Thomas Soggin:
19 de Junho de 2006
Queridos irmãos,
O meu
nome é Andras Szalai, sou diretor de um centro de pesquisa de
apologética evangélica na Hungria e preciso de sua ajuda – ajuda profissional
de um teólogo Valdense – num certo projeto de pesquisa no qual estou
trabalhando.
É
sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que afirma que os
Valdenses guardaram a lei do sábado. Pelo que eu saiba, isso não
é verdade, mas eu gostaria de saber a sua
opinião. Se os Valdenses guardavam ou chegaram a guardar o
sábado em algum momento, por favor me dê fontes históricas.
Andras Szalai
Apologia Research Center (CFAR Hungary)
Pf. 22, 1576 Budapest. Hungria
Querido irmão Andras,
Meu nome
é Thomas Soggin, um ministro Valdense em Bérgamo (norte da Itália), apontado
pelo nosso Conselho–o Valdese Tavola–para responder a sua carta.
Se você está interessado nas Igrejas Valdenses na Itália (Norte, Centro e Sul da Itália), no Uruguai e na Argentina, do passado e do presente, você pode dar uma olhada no site da nossa Casa Publicadora: Claudiana (Torino), email. Você pode também tentar encontrar e estudar o seguinte livro: Giorgio Tourn, Vocês são minhas testemunhas – os valdenses em 800 anos, Claudiana Editor 1989 – Distribuído na América do Norte pelo P.O. Box 37844 – CINCINNATI, OH 45222 (EUA).
Em seus 350 anos antes da Reforma, o verdadeiro problema foi o batismo – a conexão entre o batismo e o constantinianismo da Igreja Católica Romana, não o problema do batismo (por imersão ou por aspersão), nem o problema do sábado ao invés do domingo.
Você
pode tentar encontrar numa grande biblioteca os seguintes livros:
1) Jean
Gonnet - Amedeo Molnar, Les vaudois au moyen age, Claudiana, Torino 1974
(em Francês): No século XV todos os Valdenses (França,
Itália: Piemonte, Calábria) estavam unidos ao movimento Hussita: os
tchecos Taboritas (c/o Jan Hus). Nesse
tempo também existiam alguns documentos Valdenses sobre o
batismo: pág. 434-437).
2)
Amedeo Molnar, Storia dei valdesi/1, Dalle origini all’adesione alla
Riforma, Claudiana, Torino 1974 (em Italiano). (Eles não tinham interesse no
batismo como escreveu o apóstolo Paulo em 1 Cor. 1:17); pág. 274.
3) Carlo
Papini, Valdo di Lione e i «poveri nello spirito», Claudiana, Torino,
2001. Eles foram chamados: Mater Reformationis (Mãe da Reforma),
quando antes eles eram como você sabe, durante a Idade
Média apenas um movimento, mas não uma igreja. Após o Sínodo
dos Chanforan em Angrogne (1532) e mais tarde, os
Valdenses se tornaram uma Igreja Presbiteriana Reformada,
como em Genebra. Adotaram a Confissão de fé Reformada de
Huguenote, do chamado Sínodo “De la Rochelle” de 1559 (mas
foi realmente o Sínodo Paris a sua primeira Assembleia
Geral Huguenot).
Mas em 1655, as Igrejas Valdenses tiveram a sua própria Confissão de Fé, feita às pressas em italiano, imediatamente após o massacre dos Valdenses, chamada “Piedmonts Easters” (veja Milton’s Avange o Lord…!). Essa confissão de fé era simplesmente uma versão abreviada em italiano da Confissão de Fé Huguenote de 1559:confirmava que teologicamente os Valdenses estavam no calvinismo presbiteriano. Ainda hoje é a base das crenças dos Valdenses, a qual os candidatos têm que assinar na frente da Assembleia Geral antes de se tornarem Ministros ordenados (VDM) nas nossas igrejas (sem qualquer tipo de anabatismo, ou sábado em vez de domingo!).
Portanto, os
Valdenses não guardavam o sábado (no sentido de sábado em
vez de domingo) e não eram guardiões da “verdade do sábado”,
como dizem. Os Valdenses nunca seguiram o sábado
dos Adventistas do Sétimo Dia, mas seguiram a Paulo como
em Romanos 14:5-8.
Podemos,
portanto, dizer muito claramente que os Valdenses não
eram os guardiões do Sábado, sétimo dia, e eles não foram
perseguidos por guardar o sábado! Eles foram
perseguidos, (a partir de 1532–quando fizeram parte da Reforma
Sínodo Angrogna–a 1848–quando receberam a liberdade religiosa), por
causa de sua fé calvinista-reformada em Cristo.
Com os meus melhores sentimentos, Thomas Soggin
22 de
Junho de 2006
Querido
irmão Thomas,
Só mais
uma coisa. Posso usar a sua carta como uma resposta oficial
da Igreja Valdense para refutar a alegação dos Adventistas do
Sétimo Dia? (Como escrevi antes, eles afirmam que os
Valdenses guardaram o sábado assim como eles; desta forma eles
querem estabelecer uma continuidade histórica com a sua igreja...)
No
caso que você permita que eu use a sua carta, eu
também gostaria de enviá-la para alguns pesquisadores americanos,
os quais fariam apenas o que fizemos, dizendo aos
Adventistas que não podem usar os Valdenses para
provar o passado histórico do ensino deles.
Que Deus
o abençoe! Andras
23 de
Junho de 2006
Querido
irmão Andras,
Certamente
você pode usar a minha carta com toda a documentação,
porque o velho movimento Valdense e a alegação dos
Adventistas do Sétimo Dia, têm, historicamente falando, nada a
ver um com o outro, nem com a Igreja Valdense reformada depois da
Reforma (1532).
Que Deus
o abençoe também, Thomas Soggin
Artigo publicado por Life Assurance Ministries
Por Heládio Santos
Bacharel em Ciências Sociais
Especialista em Comunicação e Teologia Histórica
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