Eu tenho sentido a urgente necessidade de fazermos um seminário sério que possa cuidar da formação de pregadores bíblicos e ortodoxos. Alguém, talvez, me replique alegando que já existem muitos seminários. Foi, porém, examinando muitos seminários que eu conclui a necessidade de um novo.
Antigamente, o grande inimigo do cristianismo ortodoxo foi liberalismo, o qual negava a inspiração plenária da Bíblia. Agora, o grande adversário do cristianismo bíblico é a hermenêutica de bloqueio. Por ela, não se nega explicitamente a inspiração da Bíblia, mas se estabelecem critérios interpretativos que imunizam os leitores da Escritura de suas reivindicações.
O livro mais popular de hermenêutica nos seminários evangélicos é o livro ENTENDES O QUE LÊS (Edições Vida Nova) de Gordon D. Fee e Douglas Stuart. O referido livro é considerado um guardião da hermenêutica ortodoxa. É recomendado por pentecostais e tradicionais. Esse livro, no entanto, é cheio de erros tanto na sugestão de regras de interpretação como nos exemplos práticos. Em muitos pontos, ele nega explicitamente as regras de hermenêutica que serviram de pano de fundo para os reformadores protestantes do século XVI. Pretendemos em artigos posteriores (não necessariamente em seqüência cronológica) mostrar os graves erros contidos nesse livro. Agora, porém, queremos falar sobre o principal de seus autores: Gordon D. Fee.
Gordon D. Fee tem origem pentecostal e afirma essa origem. Apesar disso, é um dos autores preferidos dos tradicionais. Como pode ser isso?
A verdade é que Fee, apesar de se classificar como pentecostal, nega a experiência do Batismo no Espírito Santo como uma experiência diferente da conversão nos escritos de Paulo. Em seu livro PAULO, O ESPÍRITO E O POVO DE DEUS, ele diz:
“... Alguns têm argumentado em favor do batismo do Espírito, pelo qual eles querem dizer uma experiência separada e distinguível da conversão. Mas isto tem contra si tanto o uso Paulino (em lugar algum ele usa este termo ou aponta claramente para tal segunda experiência) como a ênfase neste contexto, que não incide sobre uma experiência especial no Espírito além da conversão, mas sobre o recebimento comum do Espírito [...] A questão premente, por outro lado, é se Paulo também teve a concepção de uma obra da graça depois da conversão, à qual a expressão ‘batismo do Espírito’ pode ser corretamente aplicada. Embora alguns dos textos de Paulo tenham sido interpretados desta forma, a plena evidência destas passagens em contexto torna isto incerto. Se Paulo sabia de tal experiência é um ponto discutível, contra-argumentado primeiramente com base no silêncio.” (p. 216, 219-220)
Embora aceite teoricamente a atualidade dos dons carismáticos, Fee declara:
“A questão quanto a saber se o ´falar em línguas` nas comunidades pentecostais e carismáticas contemporâneas é o mesmo em qualidade como aquela nas igrejas paulinas é um ponto discutível – e provavelmente irrelevante. Não há simplesmente um meio de saber.” (Op. Cit., p. 186).
As passagens acima deixam claro que Fee não é um legítimo pentecostal. É por esse motivo que ele é um “herói” entre os tradicionais. A prática de Fee, porém, é desonesta. Ele se mascara de pentecostal para destruir a doutrina pentecostal. Talvez algum tradicional que acredite que os fins justifiquem os meios queira justificá-lo, mas o melhor remédio para esses é sentir na pele a mesma traição. Fee também “passa a perna” em todos os protestantes e evangélicos. É o que passarei a falar.
A doutrina básica da Reforma Protestante é a doutrina da justificação pela fé (princípio material da Reforma). Lutero e Calvino diziam que essa doutrina é a que decide se uma igreja está de pé ou caída.
A justificação pela fé é o entendimento de que Deus nos imputa a justiça de Cristo (justificação forense ou extrínseca) quando cremos em sua pessoa e sacrifício. Os crentes crêem que estão em processo de santificação pelo Espírito Santo, mas a sua santificação intrínseca não é base de sua aceitação diante de Deus, pois somos aceitos por Deus na justiça imputada de Cristo. Os católicos, por sua vez, não crêem na justificação forense ou extrínseca, confundindo justificação com santificação. Para os católicos, a santificação (e, logo, as obras) é o padrão de aceitação diante de Deus.
Gordon D. Fee expressa a sua opinião sobre o assunto:
“A opinião tradicional, fomentada pelos reformadores e perpetuada pelas gerações de protestantes, é que a ´justificação pela fé` é a chave para essa teologia. Esta posição enfatiza o histórico ato salvífico de Cristo em nosso benefício e nossa aceitação dele por meio da fé. A INEDAQUABILIDADE DESTE PONTO DE VISTA É QUE ELE FOCALIZA UMA METÁFORA DA SALVAÇÃO, COM EXCLUSÃO DE OUTRAS... Em resposta a isto, outros encontraram como centro da teologia de Paulo sua mística experiência de estar em Cristo. Esta visão MUDOU O FOCO DA OBRA HISTÓRICA DE CRISTO E SUA APROPRIAÇÃO PELO CRENTE PARA A CONTÍNUA EXPERIÊNCIA DE CRISTO DOS CRENTES” (Op. Cit., p. 5)
Apesar de toda a ênfase de Paulo na justificação pela fé em Gálatas, Fee diz:
“Sem dúvida, a experiência do Espírito escatológico prometido, não justificação pela fé, forma a essência da argumentação de Paulo numa carta (aos gálatas) devotada principalmente a este ponto... Porque o Espírito é suficiente para fazer o que o Torá não era capaz de fazer em termos de justificação, a saber, ‘para que as ordens justas da lei pudessem ser completamente CUMPRIDAS POR NÓS, que vivemos de acordo com o Espírito” (p. 111-112).
Gordon Fee, o pentecostal tradicional, o protestante católico, é o grande mestre de hermenêutica dos seminários evangélicos! Que lástima! Precisamos de um verdadeiro seminário logo!
Prof. Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
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