Há uma concepção acerca da relação entre o Antigo e o Novo Testamento segundo a qual tudo aquilo que é do Velho Testamento só valerá no Novo se for reafirmado. No livro ENTENDES O QUE LÊS (Edições Vida Nova), Gordon D. Fee e Douglas Stuart defendem essa posição:
“... Ou seja: a não ser que uma lei do Antigo Testamento seja de alguma forma reformulada ou reforçada no Novo Testamento, já não é diretamente obrigatória para o povo de Deus” (p. 139).
Nós poderíamos “salvar” essa hermenêutica de desastres por meio de um complemento, ou seja, dizendo que o Novo Testamento pode reafirmar coisas do Velho Pacto não apenas de maneira explícita, mas também de maneira implícita. Assim, se poderia condenar o bestialismo (sexo com animais) debaixo do Novo Pacto, embora somente no Antigo Testamento tal prática seja reprovada diretamente. Se o Novo Testamento condena o homossexualismo como não natural (Romanos 1), não faria sentido aprovar o bestialismo. As relações incestuosas proibidas no Velho Testamento ainda o são no Novo Testamento, pois Paulo condenou uma delas na igreja de Corinto (I Cor. 5: 1). A distinção de vestes entre homem e mulher exigida em Deuteronômio 22: 5 continua válida, pois Paulo exige distinção de aparência entre homem e mulher na igreja de Corinto (I Cor. 11: 2-16).
Gordon D. Fee e Douglas Stuart, porém, não aceitam a nossa tentativa de “salvar” a sua imprecisa hermenêutica:
“Somente aquilo que é explicitamente renovado da lei do Antigo Testamento pode ser considerado parte da ‘lei de Cristo’ no Novo Testamento. Incluídos em tal categoria estariam os Dez Mandamentos... bem como os dois grandes mandamentos em Deuteronômio 6: 5 e Levítico 19: 18. Não se pode comprovar QUE QUALQUER OUTRA LEI DO ANTIGO TESTAMENTO É RIGOROSAMENTE OBRIGATÓRIA PARA OS CRISTÃOS, POR MAIS VALIOSO QUE SEJA PARA OS CRISTÃOS CONHECEREM TODAS AS LEIS.”(p. 141).
Ora, se, no Novo Testamento, só valem os dez mandamentos e o mandamento do amor, então não há como condenar as práticas do homossexualismo ou do bestialismo, pois elas não estão explicitamente reprovadas nos dez mandamentos e no mandamento do amor. Além disso, na dispensação da graça, ninguém guarda o sábado nos termos do decálogo, ou seja, ninguém impede os animais e os estrangeiros de fazerem obra servil (Êxodo 20: 10).
A visão de Gordon D. Fee e Douglas Stuart da palavra de Deus é fraca, pois presume que Deus tenha que repetir algo para continuar valendo. Eles fazem de Deus um pai sem autoridade que repete várias vezes as mesmas ordens até ser levado a sério.
A hermenêutica bíblica da Reforma diz exatamente o contrário de Gordon D. Fee e Douglas Stuart, pois afirma que toda palavra de Deus no Antigo Testamento continua válida a não ser que haja alguma razão explícita ou implícita no Novo Testamento para não continuar valendo. Kenneth L. Gentry, Jr., observa com acerto:
“... Se o Novo Testamento rejeita ou anula uma lei particular da Lei de Deus, quer por preceito ou exemplo, então essa lei não é mais obrigatória neste era. MAS MANTEMOS QUE É SOMENTE DEUS FALANDO NA ESCRITURA QUE TEM AUTORIDADE PARA FAZER ISSO.” (God’s Law in the Modern World: The Continuing Relevance of Old Testament Law).
É necessário que levantemos urgentemente um seminário genuinamente bíblico para ensinar a correta forma de interpretar a Bíblia!
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